Por Ludmila R. Carvalho
Estive num Seminário de lançamento da Revista Questões de Saúde Reprodutiva, cujo objetivo era debater como se articulam as cirurgias estéticas, especialmente as ‘cirurgias íntimas’, com a saúde e a segurança das pacientes, sua sexualidade e imagem corporal, e a partir das minhas anotações e reflexões, elaborei o texto que segue.
A episiotomia, uma pequena incisão cirúrgica realizada na vagina no momento do parto, vem sendo praticada como procedimento de rotina, ou seja, é entendida como procedimento preventivo para lacerações que possam ocorrer durante o parto normal e portanto, realizada em quase todos os casos.
Porém, há estudos que
defendem que esse procedimento seja realizado em apenas 15% dos casos, ou seja,
somente em casos muito específicos, com indicação médica.
Por ser um corte, uma
incisão cirúrgica, a episiotomia resulta numa cicatriz, cujas consequências
podem ser a formação de quelóide, perda da sensibilidade local, dor para ter
relação, fibrose da musculatura, entre outras. Então, justamente na parte do
corpo em que a mulher deveria sentir mais prazer, após esse procedimento, ela
pode vir a sentir dor, ou mesmo perder a sensibilidade.
Porém, a reflexão mais
importante sobre a questão é que a episiotomia se configura, então, como um
procedimento cirúrgico, feito no corpo de uma mulher saudável, mas, sem o
consentimento desta. Sim, sem o consentimento, pois, quando uma mulher entra em
trabalho de parto em um hospital ou maternidade, evoluindo para um parto normal,
a episiotomia é realizada como procedimento de rotina, sem que a mulher seja
sequer consultada, ou mesmo comunicada.
Resulta num exemplo
claro do exercício do poder da medicina, e da prática obstetétrica masculina,
sobre o corpo da mulher.
Desde o surgimento
movimento feminista, e da revolução sexual, o lema das mulheres foi “nosso
corpo nos pertence”. Podemos observar que ainda hoje, essa máxima não é
realidade em todos os segmentos da sociedade. É vigente, ainda, um saber
hegemônico da medicina, controlando os corpos e medicalizando indivíduos. Nesse
caso, específico, fica clara a violência de gênero, que incide na violação dos
direitos sexuais e reprodutivos dessas mulheres.
Necessitamos lutar por
um conhecimento e uma prática interdisciplinar na área da Saúde, sobretudo na
Saúde Pública. Um prática mais ética, e pautada pelo diálogo.
Evento: Seminário “Cirurgia Estética, Imagem Corporal e Sexualidade”, lançamento da Edição n. 05 da Revista Questões de Saúde
Reprodutiva no Brasil.
Data: 31/05/2012
Local: Faculdade de Saúde Pública da USP
Local: Faculdade de Saúde Pública da USP
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