quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Questões de Saúde Reprodutiva

Por Ludmila R. Carvalho


Estive num Seminário de lançamento da Revista Questões de Saúde Reprodutiva, cujo objetivo era debater como se articulam as cirurgias estéticas, especialmente as ‘cirurgias íntimas’, com a saúde e a segurança das pacientes, sua sexualidade e imagem corporal, e a partir das minhas anotações e reflexões, elaborei o texto que segue.

A episiotomia, uma pequena incisão cirúrgica realizada na vagina no momento do parto, vem sendo praticada como procedimento de rotina, ou seja, é entendida como procedimento preventivo para lacerações que possam ocorrer durante o parto normal e portanto, realizada em quase todos os casos.
Porém, há estudos que defendem que esse procedimento seja realizado em apenas 15% dos casos, ou seja, somente em casos muito específicos, com indicação médica.
Por ser um corte, uma incisão cirúrgica, a episiotomia resulta numa cicatriz, cujas consequências podem ser a formação de quelóide, perda da sensibilidade local, dor para ter relação, fibrose da musculatura, entre outras. Então, justamente na parte do corpo em que a mulher deveria sentir mais prazer, após esse procedimento, ela pode vir a sentir dor, ou mesmo perder a sensibilidade.
Porém, a reflexão mais importante sobre a questão é que a episiotomia se configura, então, como um procedimento cirúrgico, feito no corpo de uma mulher saudável, mas, sem o consentimento desta. Sim, sem o consentimento, pois, quando uma mulher entra em trabalho de parto em um hospital ou maternidade, evoluindo para um parto normal, a episiotomia é realizada como procedimento de rotina, sem que a mulher seja sequer consultada, ou mesmo comunicada.
Resulta num exemplo claro do exercício do poder da medicina, e da prática obstetétrica masculina, sobre o corpo da mulher.
Desde o surgimento movimento feminista, e da revolução sexual, o lema das mulheres foi “nosso corpo nos pertence”. Podemos observar que ainda hoje, essa máxima não é realidade em todos os segmentos da sociedade. É vigente, ainda, um saber hegemônico da medicina, controlando os corpos e medicalizando indivíduos. Nesse caso, específico, fica clara a violência de gênero, que incide na violação dos direitos sexuais e reprodutivos dessas mulheres.
Necessitamos lutar por um conhecimento e uma prática interdisciplinar na área da Saúde, sobretudo na Saúde Pública. Um prática mais ética, e pautada pelo diálogo. 
 
Evento: Seminário “Cirurgia Estética, Imagem Corporal e Sexualidade”, lançamento da Edição n. 05 da Revista Questões de Saúde Reprodutiva no Brasil.
Data: 31/05/2012
Local: Faculdade de Saúde Pública da USP

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A Beleza Impossível

Por Ludmila R. Carvalho



Assisti a um evento na FSP, em que tive oportunidade de ouvir a exposição e comprar um livro da Rachel Moreno: “A Beleza Impossível”.
O livro, interessantíssimo, propõe uma reflexão acerca do ideal de beleza feminina, divulgado na mídia e introjetado nas mulheres que buscam incessantemente atingir esse ideal inacessível.
Traça uma breve história da beleza, apontando como cada aspecto e parte do corpo foram valorizados de formas diferentes, em momentos diferentes da história, bem como diferentes tipos de roupas e vestimentas. Mas, a partir do séc. XX, houve uma necessidade de unificação de gostos e padrões, tendo a mídia papel fundamental na pasteurização dos modelos e estilos de vida.
E então, a autora observa que na mídia apenas é possível observar mulheres jovens, brancas, magras, pele lisa, cabelos lisos ou levemente encaracolados e preferencialmente loiras. Mas quantas de nós nos parecemos com estas mulheres?
E aqui, falo um pouco de uma experiência recente que me fez refletir ainda mais sobre o tema. Para ilustrar um trabalho sobre sexualidade adolescente, fiz uma busca no Google por imagens de “casais adolescentes”, “jovens casais”, “namorados adolescentes”, etc.
Fiquei impressionada, pois apenas surgiram imagens de casais brancos, desse tipo físico padrão. Não contente, fiz a mesma busca, mas por “casais adolescentes negros” e assim por diante, e o que encontrei? Quase nada. A maioria das fotos não tinha nada a ver com a pesquisa, ou então trazia casais em que um dos dois era branco, além de surgirem conteúdos mais sexualizados.
Voltando ao livro, a autora também traz essa questão, questionando o lugar das negras nesse universo mediático, bem como das gordinhas, obesas e das velhas, já que padrão além de brano, magro, louro, é jovem.
Discute ainda a fragmentação do corpo feminino: o foco nos peitos, na bunda e a eterna reprodução dos estereótipos da mulher como objeto sexual, sedutora e submissa, e do homem dominador.
Enfim, é possível refletir, que apesar da intensa luta pela emancipação da mulher, apesar da liberação sexual e a revolução dos costumes, a mulher ainda se encontra refém de um ideal de beleza e vaidade. Isso porque a beleza vem se democratizando, estando ao alcance de todas, e com formas facilitadas de pagamento, e então, nessa lógica de “só não é bela quem não quer” a mulher que não tiver um mínimo de vaidade, ou tiver um corpo fora do padrão, é vista como “relaxada”.
Não há saída então?
A autora aponta algumas possibilidades, mas eu, um pouco mais pessimista, às vezes penso que não.



Sobre:
-A Autora:  Rachel Moreno é psicóloga e pesquisadora, é especialista em Meio Ambiente e Sexualidade Humana e Dinâmica do Movimento Expressivo. Ativista dos direitos das mulheres, autora do livro “A Beleza Impossível - Mulher, Mídia e Consumo" (Editora Ágora).
-O Livro: A Beleza Impossível: Mulher, Mídia e Consumo, Editora Ágora, São Paulo, 2008.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Multidisciplinar

Por Ludmila R. Carvalho



Li a notícia de que o Centro Multidisciplinar da USP realizará estudos e pesquisas sobre crack, álcool e outras drogas - O Instituto de Álcool e Drogas (IAD).

Leia notícia aqui.

Estranhamente, há algumas semanas, recebi informações a respeito de um grupo de estudos sobre o tema, na USP, envolvendo pesquisadores de diversas áreas (psicologia, enfermagem, ciências sociais, saúde pública).
Esse grupo  já vem discutindo algum tempo, inclusive, tendo realizado dois eventos intitulados "A Cracolândia muito além do Crack".
Assim, que a notícia da criação do tal Centro Multidisciplinar, realizado pelo IPQ me pegou de surpresa, pois ao que parece, o Instituto de Psiquiatria não participa desses debates. Apesar de, curiosamente, divulgar uma atuação multidisciplinar, com visões distintas de diferentes áreas do conhecimento.

Será multidisciplinaridade?
Qual será de fato a atuação desse centro?