sexta-feira, 3 de outubro de 2014

O Feminismo e o Feminino

Por Ludmila R. Carvalho



A crise de representatividade do feminismo atual me preocupa.
É muito triste ler notícias como esta, em que mulheres se declaram abertamente CONTRA o feminismo.
Mas, antes de criticá-las, vale refletir porque isso pode estar ocorrendo.

Tenho ouvido alguns jovens, rapazes e garotas, que tem se colocado em oposição ao feminismo, por ser o mesmo que o machismo, porém do lado oposto. ou seja, um culto ao ódio pelos homens, e um fomento à misandria.
Também percebo que muitas mulheres, ou garotas, não se identificam com o movimento feminista, por não se verem refletidas nele, ou melhor, em sua imagem distorcida ao longo dos tempos.
Isso significa que elas não aproximam-se do movimento feminista, por não quererem deixar de usar salto alto, maquiagem, etc.
Assim, o feminismo se afastaria de uma identidade "feminina", em seus imaginários. O que é perfeitamente justificável, dada a imagem que a sociedade faz, em seu senso comum, de que a feminista é a mulher masculinizada, é a lésbica, é a que odeia os homens.

Posso até entender o que leva algumas a assumir esse tipo de comportamento e estereótipo. Tem a ver com uma questão de resistência das minorias oprimidas. É semelhante ao que ocorre com outras minorias, que ao se sentirem oprimidas, se fortalecem, apoiando-se uns nos outros, reforçando sua identidade e ressaltando as diferenças em relação aos outros. É o que pode ocorrer entre migrantes, imigrantes, membros de diversas culturas, religiões, raças e etnias.
Porém, como em todos esses casos, o que tem por intuito o empoderamento, fortalecimento de uma identidade, um senso de pertencimento e união, pode, em suas manifestações extremistas, virar ódio, xenofobia. Assim como a misandria, no caso em discussão.

O movimento feminista, em seu surgimento, veio com esse caráter de fortalecimento, união e empoderamento. Afinal, mulheres tinham muito menos direitos que têm hoje (no ocidente, ao menos). É aí que se dá a importância dessa luta histórica, pela busca por igualdade de direitos, ainda hoje não consolidados. Mas, nunca falou-se se em ódio ao masculino.
Pelo contrário, como se pode combater algo aplicando-se a mesma moeda, ou seja, como criticar o patriarcado e toda a cultura de submissão das mulheres, toda a violência sofrida (física ou psicológica) aplicando aos homens a mesma indiferença, violência e silenciamento?

Não consigo entender de que forma tais atitudes podem contribuir para uma sociedade mais igualitária em questões de gênero. Apenas vejo nessas atitudes o reforço a polarização homens X mulheres que nada agregam ao debate de igualdade.
http://www.upf.br/comarte/wp-content/uploads/2013/11/Alessandra-Formagini.jpgAfinal de contas, pra que nos distanciarmos tanto, se homens e mulheres são muito mais parecidos entre si, do que com qualquer outra espécie ou ser vivo do planeta. Ou melhor, são mais parecido entre si que homens e coqueiros, do que mulheres e plânctons...

Sugiro àqueles e àquelas que tenham simpatia pelas ideias feministas, mas não se identificam com o ódio a masculino, com as atitudes misândricas, que procurem outras fontes de informação. Feminismo NÃO é isso. Talvez funcione, ou tenha funcionado, para algum grupo, em alguma situação ou momento histórico específico. Mas não acredito que reflita a contemporaneidade e suas lutas por igualdade e equidade de gênero.
Sugiro a busca pelas chamas teorias Queer, que dialogam muito mais com essas pautas e também com a diversidade e liberdade sexual.

Talvez seja a alternativa para a crise de representatividade do movimento feminista.
Talvez necessitemos de novas vozes.