sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Brancas, Brancos e o Racismo

Por Ludmila Carvalho

Ontem, vi no Jornal da Cultura uma matéria sobre a intolerância nas redes sociais, principalmente relacionada ao racismo.

Na matéria ressaltou-se que, nas redes sociais, 84 % das menções a temas sensíveis são negativas. Devido a um suposto anonimato, as pessoas expõem nas redes o ódio que não são capazes de admitir em público.

Ao debater o assunto, a Consulesa da França Alexandra Loras, refere que considera o Brasil um país muito racista, expressando o racismo que sofre diariamente no País. Ela lembra ainda da falta de representatividade da população negra, dos altos índices de mortalidade da população jovem e negra e também que, apesar das pessoas não se considerarem racistas, poucas tem amigos e amigas negrxs. Uma porcentagem muito menor certamente consideraria relacionar-se afetivamente com negrxs. Menos ainda trocar de lugar com uma pessoa negra.




O mais impressionante são os comentários, pois há pessoas, ainda, que não reconhecem o Brasil como racista. 
Como assim?
Há ainda pessoas que acham que trata-se de vitimismo. Que nosso país não é racista. Que racismo, mesmo,  acontece na África do Sul.

Bom, reconheço que haja racismo lá, mas também aqui. Talvez sejam expressões diferentes de racismo, mas ainda sim, racismo.
Identifico o racismo presente no dia-a-dia das pessoas, embora, por ser branca, não o sinta na pele.


Aliás, esse era o ponto que queria chegar: 

Sou branca!



E sei que muitas pessoas criticam quando brancas e brancos falam sobre racismo. Eu entendo e respeito esse posicionamento, mesmo porque, quem melhor pode falar sobre racismo do que a própria pessoa que passa por isso?

Mas, também existe o lado opressor.
E, se uma pessoa do lado opressor (no caso eu - branca) se incomoda com o racismo que vê na sociedade e deseja uma sociedade diferente, o que ela deve fazer?
Levantar bandeira? Lutar? Sair por aí apontando o dedo para racistas?
Não!

De acordo com a própria Consulesa, a pessoa racista não se reconhece como racista.
E é aí, ao meu ver que está a questão central, já que por isso mesmo, as pessoas em geral acreditam que o racismo não existe.
Portanto, o melhor a fazer é reconhecer o racismo que existe em nós, brancos e brancas. É necessário o exercício e reflexão sobre nossas atitudes no dia-a-dia. É preciso por a mão na consciência e perceber que somos, sim, racistas.
Aí, a partir disso, poderemos começar a sonhar com um País diferente.


Elaborei, dessa vez, um vídeo, em que faço esse exercício de reflexão sobre minhas possíveis atitudes racistas, ao longo da vida...





quarta-feira, 27 de julho de 2016

Homens, Mulheres, Relacionamentos




Por Ludmila R. Carvalho


Sabe aquelas frases que a gente sempre ouve? 


- As mulheres são assim mesmo!

- Esses homens, são todos iguais!


Você concorda com isso?

Por trás dessas frases está uma "divisão de papéis sociais", criada historicamente e culturalmente e a que gente continua só repetindo, sem, muitas vezes questionar
Esses papéis sociais são aprendidos culturalmente, e valorizam de forma diferente as atividades masculinas e femininas.
Também nessa divisão de papéis, são naturalizadas, ou seja, são vistas como "naturais" as diferenças entre homens e mulheres que vão além do corpo biológico.
Acredita-se que as funções dos homens e das mulheres na sociedade são como são porque fazem parte de uma certa natureza humana. Então os papéis de cada um e cada uma sempre foram assim, e continuarão sendo.


Mas não precisa ser assim. 

A naturalização dos papéis tal como é hoje, continua colocando a mulher num lugar secundário, em que depende, precisa do homem. Seja para sustentá-la, seja para protegê-la devido à sua natural fragilidade, seja para controlá-la em sua "natureza" histérica e desequilibrada.
E também exige aos homens uma ausência de sensibilidade, uma demonstração e provação constante de sua masculinidade.
Essas visões são entendidas como Estereótipos de Gênero, ou seja, uma generalização sobre o que homens e mulheres são e o como devem se comportar. Por exemplo, a ideia de que a mulher é frágil, e o homem é forte, de que homem não chora e mulher sensível.

Isso não é natural. Tudo isso é aprendido, desde cedo quando se veste as meninas de rosa e os meninos de azul. Quando os meninos ganham carrinhos e as meninas, bonecas. 

                           


Você acha que pode ser diferente? 
Qual é o nosso lugar nessa história? Aceitando ou questionando esses papéis?
E nossos relacionamentos como são? Eles reproduzem esses estereótipos ou não?

Mas a pergunta mais importante a ser feita é: Estamos felizes com isso?




quarta-feira, 20 de julho de 2016

Violência Médica

Por Ludmila R. Carvalho
Muito se fala da violência obstétrica, que é a violência vivida por mulheres antes, durante a após o parto. São várias as formas que essa violência pode se manifestar, desde a violência psicológica, até o desrespeito com seu corpo e suas escolhas.


(mais sobre violência obstétrica aqui e aqui)


Traçando um paralelo a essa questão, podemos identificar que pode existir violência na relação entre profissionais da saúde e pacientes em muitos outros momentos, em muitos outros procedimentos, em todas as especialidades.
Essa violência, que pode também ser reforçada pela violência de gênero, pela violência institucional, ou pelo racismo, é o reflexo do exercício do poder e da autoridade dos profissionais de medicina ao longo da história, que pode ser generalizado para outras especialidades como odontologia, fisioterapia, enfermagem, etc.

O paradigma biomédico, que restringe o corpo da (o) paciente a apenas um objeto, fragmentando-o para que seja observado apenas um pedaço e não o todo, foi importante para a evolução do saber médico, mas como consequência despersonalizou esse ser e acabou tornando a relação profissional-paciente mais fria e mecanizada.
Esse distanciamento faz com que a (o) profissional de saúde se esqueça por muitas vezes que está lidando com uma pessoa, que, minimamente, tem sentimentos, crenças, valores, e acaba não os levando em conta.
A falta de humanização e de ética na atuação da (o) profissional de saúde resulta, igualmente aos caso de violência obstétrica, em desrespeito aos desejos e escolhas da (o) paciente, desrespeito ao corpo dessa pessoa, além de violência psicológica.
Realizar procedimento SEM consentimento, (salvo os casos de inconsciência e de risco de morte, é claro!) é uma agressão. É violência.
Fazer terror psicológico para adesão a algum tratamento, ao invés de uma explicação clara e objetiva, é violência. 
Sugerir que a (o) paciente não sabe de nada, que não entende nada, que a (o) profissional é que tem conhecimento e é detentor da verdade, desconsiderando que a pessoa que mais conhece o corpo é a própria pessoa, é uma violência.






Ninguém conhece melhor o seu corpo que você mesma (o). Acredite!




Questione as (os) profissionais de saúde. Peça para que te expliquem seu diagnóstico até que você compreenda. Discuta os diagnósticos e as medicações, até que fique satisfeita (o).
Peça para que te expliquem todo e qualquer procedimento que será realizado, porque você não precisa levar sustos, ser pega (o) de surpresa para cuidar da sua saúde.

Seu corpo é seu e deve ser respeitado, por você mesma (o) e por qualquer profissional.
Isso é exercer o protagonismo também no que se refere ao cuidado com a saúde. Empodere-se!

E tem vídeo meu relatando uma situação desse tipo:




terça-feira, 5 de julho de 2016

Apropriação cultural?

Por Ludmila R. Carvalho

Bem, vou ser muito direta nesse post, e bastante subjetiva.
Eu, mulher branca, até pouco tempo atrás nunca tinha ouvido falar de apropriação cultural.
Quando ouvi pela primeira vez, desconfiei. Achei "exagero".
Mas como tudo na vida é preciso de tempo. Esse tempo passou, e não demorou muito para a minha ficha cair.
Portanto, venho nesse poste fazer um Mea Culpa.
Sim.

Porque acredito que, mais importante que promover o debate, é necessário refletir sobre seus próprios atos. E aqui reflito sobre os meus.
Não vou ficar explicando o conceito de apropriação cultural.
Primeiro porque há sites e blog incríveis que já o fazem, como ...

AzminaGeledésCapitolina, e o canal do youtube Afros e Afins

Segundo, porque não quero correr o risco de tomar o protagonismo de todo um movimento que merece respeito.
Quero falar do meu lugar, de branca, e portanto, de opressora.
Claro, porque todo branco é opressor ao negro, e toda mulher branca é opressora à mulher negra.

Não acredita?

Pense, por exemplo, numa entrevista de emprego, em que eu, branca esteja diputando a vaga com uma negra.
Imagine que nós temos as mesmas qualificações, o mesmo tempo de experiência na função, ou seja tenhamos perfis muito semelhantes.
Quais as chances dela, e as minhas?
Por isso sou opressora. Não porque quero, mas porque está dado na sociedade.
Não fico confortável com isso, e desejo muito que seja diferente.

Por isso, cada vez mais respeito o local de fala das pessoas, respeito a diversidade, e história de cada indivíduo. Admiro a luta e a resistência do movimento negro, e entendo que a apropriação cultural, ao contrário de trazer mais respeito, apenas enfraquece sua luta.
Então, reforço a importância de respeitar os elementos da cultura afro, das diferentes etnias, não fazer desses elementos apenas um objeto da moda, que passa a ser aceito, mas, se usado por brancxs. Enquanto os negros e negras continuarão a ser discriminados, de qualquer forma.


Nesse sentido, não tive como me questionar ao ver turbante sendo vendido no shopping, por mulher branca, para mulheres negras. 


E, onde fica a representatividade?

Essas mulheres estão comprando o turbante porque os identificam como algo de sua cultura, ou porque a mulher branca está usando?



Acompanhe também o canal do youtube, onde discuto esse e outros temas!



domingo, 19 de junho de 2016

Cultura do Estupro

Por Ludmila R. Carvalho

Tem sido muito discutida a cultura do estupro nos últimos dias. Há quem defenda que tal coisa não existe.
E há, por outro lado, pessoas que seguem tentando abrir os olhos do resto da humanidade para enxergar que essa cultura do estupro existe, sim, e mora nos detalhes, nas pequenas coisas.


Campanha Publicitária Dolce & Gabbana, 2007
Gostaria de sugerir para quem ainda não conhece, que busque conhecer alguns textos de Foucault. Esse filósofo abordou, entre tantas outras questões, sobre as relações de poder na sociedade e também, da Microfísica do Poder, ou seja, as relações de poder que existem no nosso cotidiano que muitas vezes não estão bem claras, mas são exercidas de forma a oprimir o lado mais fraco.

Somando a isso, há também a discussão do Biopoder, ou seja, o poder exercido sobre os corpos, no sentido do controle e da disciplina, para que sejam criados os chamados Corpos Dóceis (esse artigo da Bruna Leite discute bem esse conceito)
Então, quando falamos das diferenças entre homens e mulheres, meninos e meninas, acredito que ninguém irá discordar que de modo geral há uma educação diferente para cada gênero, bem como cobranças distintas.


Campanha Publicitária da Calvin Klein, 2010

À menina é exigido desde muito cedo que "se comporte", que não sente de perna aberta, que ande alinhada, etc. Ao menino é cobrado que haja "como homem", que não chore, não demonstre fragilidade.
Mas, principalmente, ao menino é colocado desde muito cedo, que ele deve ser um "garanhão", que tem que namorar, tem que olhar para as meni as bonitas, tem que achar as mulheres gostosas.

Bem no início da infância já se vê pais e mães orgulhosos (as) dizendo que seus filhos já têm namoradinhas na escola.
Quando um pouco mais velhos, os meninos são introduzidos ao mundo da pornografia, seja pelos pais, por outros familiares, ou pelos próprios colegas. E assim se dá o aprendizado sobre o sexo para a grandessíssima maioria dos garotos. Mas, o que aprendem ali?
No universo da pornografia não existe não.
A mulher está SEMPRE à disposição dos homens, mesmo nas situações mais inusitadas. Nesse universo, a mulher está sempre disposta ao sexo, nas mais diversas modalidades: com vários homens, com outras mulheres, dentre tantas outras situações bizarras.
E a relação só termina quando o homem termina. Quase nunca é colocado em evidência o prazer feminino.

Campanha Publicitária Devassa, 2011

Já às mulheres, é cobrado o pudor, o recato. Aquelas que são mais ousadas, tanto pela aparência, pelas atitudes, são mal vistas. Discuto também um pouco sobre isso no meu post sobre a polêmica do shortinho. Essas não são mulheres "para casar". Porque há, nessa lógica, as mulheres santas (para casar) e as putas (as da ponografia).
Mas o mundo real é muito mais complexo e diverso que isso.

Bem, e o que acontece é que, como o homem tem que estar sempre provando sua masculinidade, ele precisa olhar para todas as mulheres, ele tem que mostrar que têm interesse por elas, senão ele não é homem. E como faz isso? De muitas maneiras. Desde uma olhada indiscreta, uma assovio, uma cantada, até tocar no corpo dela sem consentimento. Pegar no cabelo, passar a mão, encoxar são ações muito comuns em várias situações. E, muitas vezes pode ir mais longe.
Deu pra entender que CONSENTIMENTO é a palavra, não?

Campanha Publicitária Skol, 2015


Portanto, nessa cultura, que educa meninos para serem machões sem sentimentos que tem que provar o tempo todo que são homens, e que os ensina que toda mulher está sempre à disposição, não há lugar para ensinar-lhes sobre consentimento.
Por isso falamos sobre a cultura do estupro. Tocar no corpo de outra pessoa sem consentimento, fazer carícias, É ESTUPRO. Não é apenas o ato sexual.

Enfim, a mídia e a publicidade desde sempre vem apenas reproduzindo e reforçando essas ideias, explorando corpo feminino, objetificando-o.
Essa matéria da Natalia Rocha fala sobre isso.
Assim como essa outra, da Andrea Dip.

Há muito que se discutir ainda sobre isso, portanto segue um vídeo em que comento um pouco sobre o tema.
Aguardo comentários!



quinta-feira, 26 de maio de 2016

Sobre o individualismo

Por Ludmila R. Carvalho

Muito vejo e ouço as pessoas falando sobre o individualismo na atualidade. Sobre o comportamento cada vez mais individualista das pessoas, dos jovens.
Mas raramente vejo alguém problematizar de fato isso. 
Pouco percebo as pessoas observando as formas sutis com as quais o individualismo se manifesta no cotidiano.

Muito pouco se discute, e assim, as ações e pensamentos individualistas vão sendo naturalizados.
Sim, naturalizados, ou seja, passam a ser compreendidos como algo normal, algo que é parte da "natureza" humana (se é que existe).
E assim, atitudes que visam a coletividade, preocupações com questões que não afetam apenas um indivíduo, mas um grupo ao qual ele (a) pode ou não estar inserido (a) são invisibilizadas, despercebidas e muitas vezes desqualificadas.
Não encontramos muitos exemplos de atitudes não individualistas no nosso dia-a-dia. Temos os maravilhosos exemplos dos mártires, que são tão grandiosos quanto distantes da nossa realidade cotidiana.
Jesus Cristo, Ghandi, Mandela, Chico Mendes, Dorothy Stang, entre outras (as) que lutaram por uma causa. Foram presos (as), torturados (as) e até morreram defendendo uma causa coletiva.
Mas, mesmo ao serem lembrados, são muito mais reconhecidos como mártires, heróis ou heroínas, do que pela causa pela qual lutavam. Ainda assim, valoriza-se o indivíduo.
Assim é na vida real como a ficção.
Quantos filmes é possível listar que o tema central é uma causa coletiva? Há muitos filmes que retratam questões sociais e políticas apenas como pano de fundo para que os protagonistas desenvolvam suas questões pessoais.
Mesmo que se possa enumerar alguns, ainda assim, há possivelmente a figura do herói. Um "personagem central" que personifica a luta, a causa, e centraliza toda a trama, deixando o coletivo para segundo plano.

O que há por trás disso?

Não sei como responder, mas acredito que sejamos desestimuladas (os) desde cedo a nos preocuparmos uns com os outros, ao mesmo tempo em que somos reforçadas (os) a cuidar da nossa vida. A não se meter onde não somos chamadas (os).
Há ainda um agravante no caso das mulheres, em nossa sociedade machista e patriarcal, que são estimuladas à rivalidade, à competitividade, acreditando que são inimigas "naturais" umas das outras.
Talvez porque enquanto estivermos muito ocupadas (os) com nossos umbigos e em alimentar a rivalidade com nossos (as) semelhantes, não teremos tempo para reivindicar outras coisas, fundamentais à coletividade. Educação de qualidade. Cultura. Lazer. Saúde. Saneamento...

E como resolver?

Acredito que a reflexão sobre o assunto é o primeiro passo. Seguindo-se a observação atenta às nossas ações no dia-a-dia, e as das outras pessoas em relação as nossas.
No vídeo que postei essa semana falo um pouco disso, e sobre uma situação que observei e pode servir para iniciar as reflexões e, quem sabe, provocar mudanças.


quarta-feira, 25 de maio de 2016

Medo do TCC?

Por Ludmila R. Carvalho

O Trabalho de Conclusão de Curso, ou TCC, aterroriza muitos alunos e alunas.
Muitas pessoas têm medo do TCC!
Perdem o sono, ficam estressadas só em pensar que precisam elaborar o "tal" trabalho. Pensam até em desistir do curso quando chega a hora de escrevê-lo.

Mas, por que?

O Trabalho de Conclusão de Curso assusta tanto alunos (as) de graduação quanto de pós-graduação porquenão aprendemos a realizar trabalhos científicos como esse ao longo de nossa jornada pela educação formal.
Portanto, somos ANALFABETOS CIENTÍFICOS!

Não somos ensinados (as) a pensar criticamente, a questionar, não desenvolvemos a curiosidade científica, e assim, não aprendemos pesquisar. 
Afinal, o TCC é um trabalho científico, ou seja, é uma pesquisa, e por isso mesmo assusta tanto. Por ser um desconhecido, para a grande maioria dos (as) estudantes.

Ele pode parecer chato, porque tem várias especificações, regras, normas. Mas essa chatice toda desaparece quando nos encantamos pelo processo de produzir conhecimento!
E é justamente isso que faz desse tipo de trabalho algo tão importante e rico: a produção de conhecimento.
É a oportunidade, o momento em que o (a) estudante pode passar de um sujeito que meramente absorve conhecimento, para um que produz conhecimento, que investiga, que busca respostas, que contribui com novas descobertas.

Então, o TCC não é apenas mais uma burocracia desnecessária, a qual você precisa passar para obter o diploma. 
Não!
Ele é mais que isso. É a síntese de todo o conhecimento que você adquiriu ao longo do seu curso, seja de graduação ou de pós-graduação.
É o momento que você deixa de ser ouvinte e leitor (a) e passa a caminhar com suas próprias pernas dentro da área que você escolheu estudar, tornando-se autor (a).

Em nossa série de vídeos, vamos tentar desmistificar o TCC e contribuir para que você perca seu medo frente a esse desafio e sinta-se capaz de concluir seu trabalho com tranquilidade.
Acompanhe!



sábado, 30 de abril de 2016

A comunicação e as relações interpessoais na área da saúde


Por Ludmila R. Carvalho

De um modo geral, os (as) usuários (as) de equipamentos de saúde tendem a se queixar da atenção recebida pelos profissionais de Saúde.
São comuns as reclamações de falta de atenção, principalmente por parte dos profissionais da Medicina, do pouco tempo disponibilizado para as consultas, da falta de atenção e de escuta por parte destes profissionais.
Muito se deve à formação destes profissionais, mais tecnicista e pouco humanizada, respondendo a um processo histórico de fragmentação, de biologicização sob um ponto de vista positivista, cartesiano e mecanicista.
Esse é o conhecido modelo "biomédico", que é tido como responsável pelo fenômeno da medicalização, que observamos atualmente. Ou seja, o excesso de diagnósticos e transtornos que são criados, identificados, a partir de comportamentos e sintomas que podem ter origem em questões sociais, emocionais, ou mesmo que podem ser aspectos "normais"do comportamentos mas que, ao se tornarem desviantes respondem a uma lógica de mercado capitalista.
Se os profissionais de saúde, não apenas da Medicina, acreditam que é possível superar esse modelo, acreditam que é possível melhorar o relacionamento com os (as) pacientes, que é possível humanizar essa relação, certamente entendem que a comunicação é uma ferramenta importante.
A comunicação entre o profissional da saúde é importante, inclusive nos momentos das notícias desagradáveis, ou da revelação de diagnósticos difíceis, pois a forma como essa notícia é dada pode fazer toda a diferença.
Recentemente, a revista AUN (Agência Usp de Notícias) publicou uma matéria sobre a comunicação de más notícias em unidades de emergência dos hospitais. A matéria apresenta os resultados de uma pesquisa sobre o tema que envolvem aspectos da comunicação verbal e não verbal e a empatia.
Essa pesquisa também conclui que os (as) profissionais de medicina não se sentem preparados (as) para comunicar as más notícias, ou seja, é uma deficiência importante na formação desses (as) profissionais.

Aqui, link para a matéria da Agência Usp de Notícias - AUN


A educadora Roberta Oliveira, colaboradora do IEO, que estuda o tema, pesquisou, em sua dissertação de mestrado, a comunicação do diagnóstico de tuberculose e a adesão ao tratamento. Em seu estudo pode identificar, dentre outras coisas, que tem maior importância o jeito, a forma com a qual o diagnóstico é revelado do que as palavras, o conteúdo da conversa naquele momento.
Mais um indicativo para a importância da humanização na relação profissional-paciente.
Abaixo, um vídeo com a entrevista da educadora:



Enfim, a humanização na saúde está bem longe de ocorrer de modo efetivo.
Mas, felizmente, há profissionais atentos (as) à essa deficiência em suas formações, e que buscam supri-la, investindo em desenvolver suas relações interpessoais e estratégias de comunicação.


terça-feira, 8 de março de 2016

Feliz (?) 08 de Março

Por Ludmila R. Carvalho

Não ia nem fazer um post sobre o dia da mulher, porque não queria chover no molhado.
Afinal, já tem tanta coisa bacana sobe o tema!
Mas, não me contive quando começaram a chegar as msgs pelo whatsapp. Cheias de florzinhas, coraçõezinhos e todos os 150 tons de rosa que podem existir. Aí foi difícil ficar indiferente.

Recebi uma dessas msgs que exaltavam o quanto somos "perfeitas".

Porque não ficamos careca;
Porque podemos usar tanto o rosa quanto o azul;
Porque temos preferencia: "primeiro as damas";
Porque temos um dia internacional;
Porque fazemos trabalhos masculinos, somos pioneiras, se eles fazem trabalhos femininos, são "bibas";
Porque se somos traídas, somos vítimas, se são traídos são "cornos";
Porque mulher de presidente é 1a dama, e marido de presidenta é o que? nada!;
Porque fazemos tudo isso de salto alto.

e por aí vai....

E então, precisei me manifestar. Primeiro, porque a msg parece bonitinha, parece ajudar nossa auto-estima, mas faz o contrário. Apenas reforça e continua reproduzindo a divisão de papéis e a desigualdade de gênero.

- Não queremos ser "perfeitas". Ninguém é.
O que queremos é ser reconhecidas e termos direitos iguais, e não ter que ficar o tempo todo provando que somos melhores que xs outrxs para conseguirmos um lugar na sociedade.

- Ficamos carecas sim, por vários motivos. E queremos o direito de ficarmos careca, se quisermos. De termos o cabelo como bem desejarmos, longo, crespo, curtinho, raspado, dredado, black, sem sermos discriminadas.

- Homens e mulheres podem, e devem, usar tanto rosa como o azul. E qualquer outra cor que bem desejarem. É isso que queremos, e não a divisão de "coisas de meninas" e "coisa de meninos".

- Primeiro as damas! Isso é alguma vantagem? Alguém acha? Queremos direitos iguais, receber o mesmo salário. Achar que isso é apenas uma gentileza, um cavalheirismo é sustentar a divisão de papéis na sociedade. Uma divisão que "obriga" os homens a agirem assim. Portanto, não é gentileza, coisa nenhuma!

- Trabalho de homem, trabalho de mulher. Não dá pra achar que as coisas ainda se dividem assim. Mulheres ocupam 80% das cadeiras nas universidades. Atuam em todas as áreas. Só ganham menos por isso.

- 1a dama,. E quem quer ser 1a dama? Queremos ser presidentas!!! A imagem de primeiras-damas é histórica e associada ao assistencialismo, à caridade, benemerência. E era o único lugar reservado a mulher no meio político. Não queremos mais ficarmos restritas à esse lugar.

- Fazer tudo de salto alto? Não, não quero fazer de salto alto. Quero o direito de fazer o que quiser de  tênis, de sapatilha, de chinelo, descalça, de qualquer jeito, e ser respeitada por isso.


Enfim, como não quero me estender, vou pontuar só mais 2 coisas:


- Flores e chocolates não significam presentes. Apenas reproduzem o o ideal machista de fragilidade e instabilidade feminina.

- O dia internacional da mulher não é um dia de comemoração. Não é para celebrar.
É um dia de luta.
É para lamentar as tantas mulheres que morreram lutando por direitos iguais.



FELIZ 08 DE MARÇO 
?

Publicado também em TPM

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Não é pelo shortinho

Por Ludmila R. Carvalho



Não é pelo shortinho.

Ou na verdade, é. Mas é também pela legging, pela blusa decotada, de alcinha, transparente, com sutiã aparecendo, pelo vestido curo, justo, pela minissaia, pela saia rodada, pela saia que agora automaticamente deve vir com um shortinho por baixo.
É por tudo isso e muito mais.
Na minha época da escola cheguei a ir para a diretoria diversa vezes. Confesso que em algumas,foi porque eu não estava mesmo vestindo o que era exigido como "uniforme": calça e bermuda de cores escuras -ou jeans. Pura afronta, ou desejo de ter uma identidade. Outras vezes porque não estava mesmo com a camiseta da escola. Rebeldia? Talvez, mas também a vergonha de usar a mesma camiseta branca de anos atrás, já gasta e justa, que acentuava meu corpo em transformação e o fato de ser uma das primeiras da turma a usar sutiã. Acabava trocando por camisetas escuras. Ou então, a saída era usar coletes, ou camisas por cima. Xadrez ou pretas. Apesar do calor.
Mas, uma vez, um pouco mais tarde fui mandada para a diretoria e não entendi porque.
Eu estava com uma bermuda preta (de cottom). Uma camiseta branca, que era permitido a quem não tinha a camiseta da escola.
A diferença é que a camiseta era larga, de tecido levinho, e tinha a gola cortada. Por baixo dela eu usava um top preto.
A diretora disse que aquela roupa era indecente, que não era jeito de ir para a escola, que eu podia usar aquela roupa na academia, em casa, na rua, mas não ali. E na  época, eu nem entendi o que tinha de errado.
Pois bem, isso aconteceu há mais de 20 anos, e ainda vejo coisas muito parecidas acontecendo. Diversas histórias que se repetem há tantos anos em cada canto desse país.
Uma garota nos relatou recentemente que a diretora lhe chamou a atenção por estar de legging. E, quando questionou porque, a justificativa foi que os meninos estão em "fase de crescimento" e as meninas não devem ficar "atiçando" eles.
Ora, quer dizer que os meninos não podem ser atiçados, então? E caso o sejam, a culpa é da mulher?
E qual a conseqüência desse atiçamento? A falta de concentração dos alunos, do professor, assédio, estupro?
Não! Isso é o que a cultura do estupro quer que as pessoas pensem. Que homens são seres selvagens que não dão conta de seus impulsos, que podem vir à tona a qualquer momento simplesmente ao vislumbrar uma roupa mais curta, ou justa, ou mesmo um pedacinho do tornozelo, em algumas culturas.
Será que os homens são esses seres incontroláveis mesmo? Será que os assédios e estupros ocorrem só com mulheres que estão vestidas de forma "insinuante". Nesse caso, os países que exigem o uso da burca seria os com menores índices de estupro. Não são.
Entendam, portanto, que não quero com meu texto, ser contra o uso do uniforme, que considero importante tanto em escolas, quanto no trabalho.
Mas, provocar uma reflexão a respeito do machismo e da cultura do estupro que ainda existe na sociedade. Quero me posicionar a favor de todas as meninas que questionam esse machismo ainda presente nas instituições e que lutam, unidas, para acabar cm a cultura do estupro e culpabilização da mulher.

Vai ter shortinho sim!


Não sabe do que estou falando?
Dê uma lida aqui


Publicado também em TPM - Tramado Por Mulheres