domingo, 19 de junho de 2016

Cultura do Estupro

Por Ludmila R. Carvalho

Tem sido muito discutida a cultura do estupro nos últimos dias. Há quem defenda que tal coisa não existe.
E há, por outro lado, pessoas que seguem tentando abrir os olhos do resto da humanidade para enxergar que essa cultura do estupro existe, sim, e mora nos detalhes, nas pequenas coisas.


Campanha Publicitária Dolce & Gabbana, 2007
Gostaria de sugerir para quem ainda não conhece, que busque conhecer alguns textos de Foucault. Esse filósofo abordou, entre tantas outras questões, sobre as relações de poder na sociedade e também, da Microfísica do Poder, ou seja, as relações de poder que existem no nosso cotidiano que muitas vezes não estão bem claras, mas são exercidas de forma a oprimir o lado mais fraco.

Somando a isso, há também a discussão do Biopoder, ou seja, o poder exercido sobre os corpos, no sentido do controle e da disciplina, para que sejam criados os chamados Corpos Dóceis (esse artigo da Bruna Leite discute bem esse conceito)
Então, quando falamos das diferenças entre homens e mulheres, meninos e meninas, acredito que ninguém irá discordar que de modo geral há uma educação diferente para cada gênero, bem como cobranças distintas.


Campanha Publicitária da Calvin Klein, 2010

À menina é exigido desde muito cedo que "se comporte", que não sente de perna aberta, que ande alinhada, etc. Ao menino é cobrado que haja "como homem", que não chore, não demonstre fragilidade.
Mas, principalmente, ao menino é colocado desde muito cedo, que ele deve ser um "garanhão", que tem que namorar, tem que olhar para as meni as bonitas, tem que achar as mulheres gostosas.

Bem no início da infância já se vê pais e mães orgulhosos (as) dizendo que seus filhos já têm namoradinhas na escola.
Quando um pouco mais velhos, os meninos são introduzidos ao mundo da pornografia, seja pelos pais, por outros familiares, ou pelos próprios colegas. E assim se dá o aprendizado sobre o sexo para a grandessíssima maioria dos garotos. Mas, o que aprendem ali?
No universo da pornografia não existe não.
A mulher está SEMPRE à disposição dos homens, mesmo nas situações mais inusitadas. Nesse universo, a mulher está sempre disposta ao sexo, nas mais diversas modalidades: com vários homens, com outras mulheres, dentre tantas outras situações bizarras.
E a relação só termina quando o homem termina. Quase nunca é colocado em evidência o prazer feminino.

Campanha Publicitária Devassa, 2011

Já às mulheres, é cobrado o pudor, o recato. Aquelas que são mais ousadas, tanto pela aparência, pelas atitudes, são mal vistas. Discuto também um pouco sobre isso no meu post sobre a polêmica do shortinho. Essas não são mulheres "para casar". Porque há, nessa lógica, as mulheres santas (para casar) e as putas (as da ponografia).
Mas o mundo real é muito mais complexo e diverso que isso.

Bem, e o que acontece é que, como o homem tem que estar sempre provando sua masculinidade, ele precisa olhar para todas as mulheres, ele tem que mostrar que têm interesse por elas, senão ele não é homem. E como faz isso? De muitas maneiras. Desde uma olhada indiscreta, uma assovio, uma cantada, até tocar no corpo dela sem consentimento. Pegar no cabelo, passar a mão, encoxar são ações muito comuns em várias situações. E, muitas vezes pode ir mais longe.
Deu pra entender que CONSENTIMENTO é a palavra, não?

Campanha Publicitária Skol, 2015


Portanto, nessa cultura, que educa meninos para serem machões sem sentimentos que tem que provar o tempo todo que são homens, e que os ensina que toda mulher está sempre à disposição, não há lugar para ensinar-lhes sobre consentimento.
Por isso falamos sobre a cultura do estupro. Tocar no corpo de outra pessoa sem consentimento, fazer carícias, É ESTUPRO. Não é apenas o ato sexual.

Enfim, a mídia e a publicidade desde sempre vem apenas reproduzindo e reforçando essas ideias, explorando corpo feminino, objetificando-o.
Essa matéria da Natalia Rocha fala sobre isso.
Assim como essa outra, da Andrea Dip.

Há muito que se discutir ainda sobre isso, portanto segue um vídeo em que comento um pouco sobre o tema.
Aguardo comentários!



Nenhum comentário: