segunda-feira, 9 de junho de 2014

Metroviário: gente ou máquina? Ou, quando o mito vira política

Engraçado que a característica mais marcante dos discursos "anti greve dos metroviários" seja a total falta de empatia (aliada ao total desconhecimento) em relação @s funcionári@s públic@s.

Acho estranho. Eu sempre que precisei da ajuda dos funcionários do metrô, no geral, fui bem atendido. Alguma situações drásticas elevaram os ânimos (afinal, a superlotação aliada a chuva causou um caos que eu nunca vou esquecer, na Estação Pinheiros. Os funcionários tentaram controlar, mas o pau foi feio). Imagina só o estado de tensão que esses profissionais não enfrentam dia após dia, quando plataformas e trens lotados, trens velhos circulando, sucateados, quebrando, zuando a porra do sistema todo... E, de vez em quando, até com um sorriso no rosto.

Ai o cidadão, ou a cidadã, esquece que, antes de mais nada, @ funcionári@ públic@ está prestando ali um serviço básico pra população. Ele/a pode não ser @ mais dedicad@ ou mais competente (como se no setor privado também fosse muito...), mas tá ali fazendo algo de importância pra coletividade. E, perto do caos que é a organização do nosso transporte, arrisco dizer que el@s fazem até demais.



Mas ai vem a velha ladainha de "Ah! Mas se ele quer um salário melhor presta outro concurso! Arruma outro emprego!". E eu pergunto de volta: quer dizer então que eu tenho que delinear a minha carreira de acordo com a rentabilidade? Tipo, um pensamento do século passado? Eu não posso simplesmente querer ser metroviário (conheço muito gente apaixonada por trens em geral) e receber remuneração digna? Eles tão pedindo Reajuste, não Aumento. É diferente. Reajuste é obrigatório por lei, o que eles defendem é que seja de acordo com a lei. O Governo diz que não dá...

Quantas categorias de servidores públicos recebem mais de dois ou três salários? Quanto tá custando pra almoçar em São Paulo? E a inflação? Sumiu esse papo agora? E a #taxaCopa? Quer dizer que, porque eu sou um pau mandado de empresa e não ganhei aumento "justo", o metroviário não pode receber?

Quero ver quem me mostra em números que o reajuste é abusivo. Com correções anuais de inflação. Eu duvido. E se for, compara isso com os lucros do Metrô de SP (metrô que dá lucro!!!). Imagina a rentabilidade das inúmeras lojinhas do metrô? Fazem as Estações ficarem com cara de shopping... Nem vou falar na publicidade, que sempre trabalha com cifras bem atlas. Anúncios enormer de grandes marcas, nas estações e nos trens. Um órgão público, que deveria cumprir um serviço básico pra população, sendo usado e administrado como um simples "negócio".

O pior argumento é aquele: "Ah! A Greve atrapalha o transporte do paulistano! Os grevistas nos privam do direito de ir e vir!". Viu, dá uma olhadinha nas fotos ai... Analisa bem. Não foi dia de greve não... Nosso direito de ir e vir já está sendo minado fazem anos...


E no centro de tudo, esse mesmo discursinho polarizante entre PT e PSDB, esse anti-petismo "pop", toda aquela retórica suja dos ataques políticos via rede, na maioria das vezes, com notícias falsas, de todos os lados, sensacionalismo, desinformação. Esse mesma imprensinha falida, sustentada pelos mesmos poderosos que recebem dela apoio financeiro.

E a moral do metroviário se perde nesse bombardeiro. A sua conduta, sua ética, é a primeira a ser atacada. A velha lógica da culpabilização dos indivíduos, a velha tática liberal de jogar povo contra povo, trabalhador contra trabalhador, pessoa comum contra pessoa comum, essa lógica abominável de sempre culpar uma classe, não as instituições quem centralizam o poder. Eles tem menos voz na imprensa, é muito mais fácil jogar nas costas deles. Depois culpam os movimentos sociais, depois o PT, o Lula, a Dilma e o diabo.

Estar com os metroviários, entendê-los, ouvi-los, lhes dar a devida importância, não é estar contra Alckmin, ou contra os tucanos. Vai além: é estar do lado de quem realmente faz as coisas acontecerem, no dia a dia, como você e eu, mas com a diferença de que é para todos (esse é um dever do Estado, trabalho dos governantes, que já sabemos, não fazem...). O funcionário público foi muito degradado ideologicamente pelas discursivas liberais e midiáticas dos anos 80 e 90, que imperam até hoje. Não é mais motivo orgulho ser empregado da prefeitura, do Estado, da federação. É coisa de "vagabundo", "acomodado", "preguiçoso".

Pode até ser. E na tua empresa? São todos super eficientes? Super envolvidos? Proativos? Parceiros? Motivados? Empreendedores?... Pois é.

Eu, felizmente, tive a oportunidade de conhecer (e conviver) com muit@s funcionári@s públi@s, familiares, amig@s, colegas de escola, enfim. A Ludmila, minha mulher (e fundadora desse blog, claro, rs), foi funcionária da Prefeitura de Indaiatuba por muitos anos. Ela sabe o que é o assédio das "autoridades" políticas sobre o funcionário. É bem diferente do corporativismo privado. Bem diferente. Ali o buraco é mais embaixo. E as dificuldades de tentar fazer um bom trabalho? Relevante pra população, que mude alguma coisa positivamente, que nasce e se desenvolva, mas ai, esbarra nas picuínhas políticas... É terrível.

@ funcionári@ públic@ é, antes de mais nada, a ferramenta mais importante desse Estado de Direito, e mesmo assim a mais subvalorizada.


Se informe sobre a Greve, leia mais, busque novas fontes de informação. Questione-se. Pense. Analise. Não é somente por reajuste salarial que esse pessoal tá lutando. Dá uma lida no resumo das reivindicações aqui. Também tem uma notícia sobre o fato do governo estadual VETAR a liberação das catracas como forma de protesto, aqui.

O/a paulistano/a médio/a, papagaio da imprensa, traiu os os trabalhadores do metrô, traiu quem está lá todo dia pra prestar serviço pra nós, milhões de malucos correndo pra lá e pra cá. Eles estão lá tentando botar ordem numa casa abandonada. Tratou @ funcionári@ com a mesma frieza que trata a máquina. Esqueceu que existe gente no metrô, mães e pais de família, mães ou pais solteiros, jovens com planos de carreira, aprendizes no primeiro emprego, idosos, deficientes, brancos, negros, pardos, e tudo mais.

Os metroviários merecem reajuste SIM! Merecem muito mais, e todos os servidores que foram esquecidos pelo Estado, também merecem, os professores, os defensores públicos, médico do Sistema Único, e toda essa galera que, não é em todo descarada não, tem também gente comprometida, que ama o que faz (apesar dos pesares), que acredita num Estado melhor, mais acolhedor, mais próximo do povo, mais humano e correto.

E é por isso, que #EuApoioMetro.

Valeu!