quinta-feira, 26 de maio de 2016

Sobre o individualismo

Por Ludmila R. Carvalho

Muito vejo e ouço as pessoas falando sobre o individualismo na atualidade. Sobre o comportamento cada vez mais individualista das pessoas, dos jovens.
Mas raramente vejo alguém problematizar de fato isso. 
Pouco percebo as pessoas observando as formas sutis com as quais o individualismo se manifesta no cotidiano.

Muito pouco se discute, e assim, as ações e pensamentos individualistas vão sendo naturalizados.
Sim, naturalizados, ou seja, passam a ser compreendidos como algo normal, algo que é parte da "natureza" humana (se é que existe).
E assim, atitudes que visam a coletividade, preocupações com questões que não afetam apenas um indivíduo, mas um grupo ao qual ele (a) pode ou não estar inserido (a) são invisibilizadas, despercebidas e muitas vezes desqualificadas.
Não encontramos muitos exemplos de atitudes não individualistas no nosso dia-a-dia. Temos os maravilhosos exemplos dos mártires, que são tão grandiosos quanto distantes da nossa realidade cotidiana.
Jesus Cristo, Ghandi, Mandela, Chico Mendes, Dorothy Stang, entre outras (as) que lutaram por uma causa. Foram presos (as), torturados (as) e até morreram defendendo uma causa coletiva.
Mas, mesmo ao serem lembrados, são muito mais reconhecidos como mártires, heróis ou heroínas, do que pela causa pela qual lutavam. Ainda assim, valoriza-se o indivíduo.
Assim é na vida real como a ficção.
Quantos filmes é possível listar que o tema central é uma causa coletiva? Há muitos filmes que retratam questões sociais e políticas apenas como pano de fundo para que os protagonistas desenvolvam suas questões pessoais.
Mesmo que se possa enumerar alguns, ainda assim, há possivelmente a figura do herói. Um "personagem central" que personifica a luta, a causa, e centraliza toda a trama, deixando o coletivo para segundo plano.

O que há por trás disso?

Não sei como responder, mas acredito que sejamos desestimuladas (os) desde cedo a nos preocuparmos uns com os outros, ao mesmo tempo em que somos reforçadas (os) a cuidar da nossa vida. A não se meter onde não somos chamadas (os).
Há ainda um agravante no caso das mulheres, em nossa sociedade machista e patriarcal, que são estimuladas à rivalidade, à competitividade, acreditando que são inimigas "naturais" umas das outras.
Talvez porque enquanto estivermos muito ocupadas (os) com nossos umbigos e em alimentar a rivalidade com nossos (as) semelhantes, não teremos tempo para reivindicar outras coisas, fundamentais à coletividade. Educação de qualidade. Cultura. Lazer. Saúde. Saneamento...

E como resolver?

Acredito que a reflexão sobre o assunto é o primeiro passo. Seguindo-se a observação atenta às nossas ações no dia-a-dia, e as das outras pessoas em relação as nossas.
No vídeo que postei essa semana falo um pouco disso, e sobre uma situação que observei e pode servir para iniciar as reflexões e, quem sabe, provocar mudanças.


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